O Anarquismo não é um Estilo de Vida
Por Mano da Cordel Anarquista
Nesse texto irei no sentido contrário do autor Murray Bookchin quando escreveu o livro “Anarquismo Social ou Anarquismo de Estilo de Vida: um abismo intransponível”, que ao se referir aos vícios do anarquismo contemporâneo deixa de criticar as diferentes vertentes do anarquismo, colocando como se o maior vilão fossem xs chamadxs anarquistas individualistas, influenciadxs por Max Stirner, Hakin Bey, Michel Foucault, enfim aqueles que todxs xs estruturalistas gostam de chamar de pós-modernos.
Não tenho a intenção de atacar exclusivamente qualquer vertente do anarquismo, pois as críticas que serão feitas nesse texto nem aquelx que lhe escreve está isentx de recebê-las, mas ao invés de culpabilizar individuxs, coletivos, vertentes, quero confrontar com as práticas que nem mesmo xs teóricxs clássicos do anarquismo escapam.
Quando me refiro ao Anarquismo estou me referindo a luta contra todas as formas de opressão que impedem a emancipação plena dx ser humanx e de todos os animais. Nesse sentido o anarquismo não existe de forma isolada, ele está ligado completamente a ação. Sendo assim como poderíamos considerar alguém anarquista? O debate que quero fazer é que não existe um Ser Anarquista, mas um Estar Anarquista, pois só podemos nos considerar anarquistas enquanto estamos no enfrentamento direto a todas as opressões que nos aprisionam, ou seja, não é um título que ganhamos e que podemos levá-lo tranquilamente para o resto da vida sem que necessitamos fazer qualquer esforço, e nem mesmo uma proteção que impede uma autocrítica.
E ao contrário do que pensava Bookchin o problema do anarquismo contemporâneo e mesmo do clássico, não está no fato dxs anarquistas assumirem diversas frentes de luta, tanto da micro como da macro politica, o problema é que ainda vemos uma grande resistência ou mesmo tabu de enfrentarmos diversas opressões que nos acompanham ao longo de séculos, mas que para muitxs é um campo minado, pois esse debate nos coloca muita vezes do lado daquelxs que oprimem e não do lado confortável de quem julga a opressão alheia.
Diferenciar a luta anarquista da influência do socialismo autoritário (ou estruturalista) também é um dos desafios que se coloca quando o assunto é o combate a todas as opressões, pois tendemos a escolher um “inimigo nº1” para enfrentar e assim todas as nossas estratégias caminharão nesse sentido, dando prioridade para algumas opressões e deixando em segundo plano outras, que além de criar uma confusão, perdendo muitas vezes o nosso horizonte politico, o que acontece é que no final chegamos sempre na mesma conclusão, a opressão não trabalhada sempre retorna, e quando retorna o resultado é a destruição ou transformação, sendo a destruição sem a transformação o mais provável de acontecer, causando o distanciamento dxs individuxs envolvidxs.
Semelhante ao que sempre houve com xs marxistas a séculos, no Brasil está crescendo uma nova categoria de anarquistas, xs anarquistas de fim de semana, ou de academia, e isso acontece também devido ao fim de espaços/okupas anarquistas, que sempre serviram de laboratórios de desconstruções, que por conta de diversos conflitos, sendo alguns já relatados acima, perdemos não somente espaços fixos, mas estamos perdendo cada vez mais a responsabilidade do encontro, momento que pode ser extremamente importante para nos distanciarmos da nossa zona de conforto, e voltarmos a ser perigosxs.
Finalizo/Inicio dizendo que esse texto poderia também se chamar “Manifesto para que a Ação tenha mais força que os discursos”, pois além de outras coisas a critica que faço aqui é para que o anarquismo não seja mais um estilo (como tantos outros existentes) a ser utilizado ao se encontrar com xs velhxs amigxs do ativismo de tempos anteriores, mas que continue sendo o constrangimento, a intolerância, a desilusão e a destruição de todas as práticas e valores morais construídos ao longo de toda a nossa existência e que nos fazem nascer presxs mesmo sem grades e correntes.
O Anarquismo só estará vivo enquanto houver Ações Anarquistas!!!
A coluna “Debates Anarquistas” tem como objetivo estimular/fortalecer/provocar o debate em torno do anarquismo fora do espaço acadêmico ou formal de educação, através de textos autorais, buscando uma linguagem inclusiva e que valorize a pluralidade do anarquismo.
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