100 anos de anarquismo na Nova Zelândia celebrados hoje
Um judeu alfaiate e seu fox terrier; um carpinteiro de Wellington, firme homem de família – não são o seu estereótipo de anarquistas-lança-bombas. Entretanto, hoje, passados 100 anos, Philip Josephs e Carl Mumme foram os dois fundadores do Grupo Liberdade (Freedom Group) – um dos primeiros coletivos anarquistas da Nova Zelândia.
“Apesar de que a imagem de uma figura clandestina vestida de preto salte a mente” percebe Jared Davidson, autor de Sewing Freedom: Philip Josephs, Transnationalism & Early New Zealand Anarchism(Costurando Liberdade: Philip Josephs, Transnacionalismo e o Novo Anarquismo na Nova Zelândia), “anarquistas como Josephs e Mumme são pessoas comuns. Foram ativos em seus sindicatos, nas esquinas, e em suas comunidades”. O que os separou, diz Davidson, foi “sua crítica à relações coercivas, escravidão do salário, e uma visão mais equitativa e humana do mundo”.
O Grupo Liberdade foi formado no dia 9 de Julho de 1913 na loja de costuras de Philip Joseph, no primeiro andar da Rua Willis, nº 4, em Wellington. “Uma questão que deveria, de alguma forma, surtir efeito esclarecedor sobre a atmosfera um tanto mística nesta cidade é o movimento ter formado um Grupo Anarquista em Wellington”, escreveu o jornal do proletariado radical, o Maoriland Worker (Trabalhador da Terra Maori), “pois este fato irá providenciar àqueles que aceitem a filosofia Anarquista com o local ao qual pertencem… compreendemos que isso será o primeiro grupo Anarquista formado na história da Nova Zelândia”.
Existe pouco material sobre o Grupo Liberdade e seus membros, mas como argumenta Davidson, “a emergência do Grupo Liberdade em 1913 significou um grande avanço na práxis anarquista na Nova Zelândia”. Assim como a importação de panfletos populares ao redor do mundo, o Grupo Liberdade manteve discussões noturnas regulares sobre uma série de tópicos radicais.
“Tão populares eram estas conversas” escreve Davidson, “que foram logo movidas da Rua Willis para o grande Salão Socialista na Rua Manners”.
Em uma noite de Setembro em 1913, 120 pessoas participaram de um evento social anarquista de um modo que nunca havia sido realizado na Nova Zelândia. Divulgado como “a formação de uma sociedade Anarco-Comunista, onde todos são iguais, onde não existem criminosos, policiais, e autoridades”, os participantes podiam desfrutar de pequenos discursos, leituras de autores proeminentes, recitais e entretenimento musical, “aproveitando por ao menos uma tarde os benefícios de uma sociedade perfeitamente livre”.
Joseph, co-fundador do Grupo Liberdade, esteve também envolvido na Grande Greve de 1913 – outro centenário marcado este ano – expressando “suas ideias publicamente de uma plataforma na vizinhança do cais da Rainha”. Os rumores dizem que o Grupo Liberdade também esteve engajado na panfletagem com conteúdo especial durante a greve.
Joseph esteve em contato constante com figuras internacionais notáveis, como Emma Goldman, desde 1904. Mais tarde, durante a Primeira Guerra Mundial, cartas para Goldman e a distribuição de literatura anti-guerra no lar e escritório de Joseph Later ocasionaram a invasão destes locais pela polícia.
Carl Mumme, um alemão naturalizado em 1896, também sentiu ódio da Coalizão Nacional do Governo. Em maio de 1916 ele foi levado de seu local de trabalho e internado na Ilha Somes em função de sua perspectiva anti-militarista. O ex-porta-voz do Grupo Liberdade foi finalmente solto de volta para sua companheira e para seus cinco filhos em Outubro de 1919 – 11 meses após o final da guerra.
De acordo com Davidson, esta e outras atividades anarquistas mostram que “o ativismo de Joseph e outros como ele, tanto via discurso quanto via correio, cumpriram um papel chave no estabelecimento de uma identidade e cultura anarquista distintas na Nova Zelândia e no exterior – uma cultura que emergiu e envelopou simultaneamente ao redor do mundo”. Os anarquistas não só existiam na Nova Zelândia; fizeram parte de uma das mais tumultuadas disputas industriais, e transmitiram uma mensagem unicamente radical para os trabalhadores ao redor do país.
“No mínimo, o Grupo Liberdade foi obviamente uma característica visível e vibrante da contracultura da classe trabalhadora de Wellington, e facilitador de conversas em que emergiam pensamentos provocativos (e talvez politicamente transformadores)”.
A luta do Grupo Liberdade por transformação social – por uma sociedade baseada nas pessoas e não no lucro – conectou a Nova Zelândia ao movimento anarquista global da atualidade. Também sinalizou o primeiro de muitos coletivos anarquistas a desempenhar um papel vibrante na história da esquerda na Nova Zelândia.
Tradução > Malobeo
agência de notícias anarquistas-ana
o crisântemo branco
ainda que pisado
é crisântemo branco
Sérvio Lima